terça-feira, julho 7

Drácula é um bom marido

Eu e as duas outras noivas Shayra e Mayra estávamos em cima de um tablado a 400 metros do chão (sinceramente não tenho muita noção de distância, mas estávamos muito, muito alto), praticando trapezismo; de madrugada. Era um hobby nosso, faziamos isso frequentemente, afinal só podíamos aparecer durante o dia. A noite não era uma boa para vampiros.
O local do trapézio era um campo aberto e tinha dois holofotes para nos orientar. Era muito, muito alto e era a minha vez de balançar no pano (aquele pano onde os trapezistas se enrolam pelos braços, pernas e tronco). Enrolei minha perna direita e me joguei.
Nossa, que sensação maravilhosa... esquecia toda a preocupação com aquelas duas noivas. Tudo o que elas faziam era puxar meu saco, só porque eu era a preferida do Dracula [vide Van-Helsing]. Ele era uma 'pessoa' tão boa... Como ele era um bom marido!
Depois de balançar e treinar bastante os movimentos trapezistas, voltei ao tablado. Não consegui finalizar um movimento, então Mayra pulou na corda e me mostrou: ela nunca faria aquilo se não quisesse puxar meu saco.
Fomos descendo a escada rolante, levaria um tempo até chegarmos lá em baixo... pessoas começaram a chegar no campo abaixo do trapézio para suas horas marcadas... O parque começou a se erguer e não estaríamos mais sozinhas. No caminho até o chão, elas me faziam carinho e me contavam histórias. Já estava ficando cansada disso tudo.
O sol estava começando a aparecer, e precisávamos retornar à casa de Adriana. Precisávamos descansar! A casa ficava bem perto dali, logo que chegávamos a o extremo leste do campo, andava até o final da rua, virava a direita, e a casa ficava bem no meio.
Subimos a escada lateral até chegar no segundo andar. Nona já estava acordada fazendo café, e outras pessoas da família também estavam perambulando pela copa que nem zumbis, indo ao banheiro, trocando de roupa, se dirigindo à cozinha... Enquanto eles acordavam, nós precisávamos dormir.
Fomos direto para o dormitório: este era cheio de camas e beliches. Queria ver o Dracula, talvez ele estivesse preocupado comigo... O que será que ele passou a noite fazendo? Assim que cheguei ouvi alguns murmurando sobre o Dracula e a suspeita de ser vampiro... Isso era ruim. As pessoas não poderiam saber disso: "E se for? Mas claro que não, ele é meu marido... eu saberia". Dei de ombros e torci para que aquele assunto não voltasse à tona.
Subi na beliche enconstada na parede. Conseguia ver pelas janelas que rodeavam o quarto a cor que o nascer do sol proporcionava àquele céu, o dia era simplesmente lindo. E ele apareceu :) sorrindo, ajeitando sua manga do braço esquerdo. Estava com seu cabelo preso e um fio permanecia na frente do rosto. Só lhe mandei um beijo à distância e ele acenou sorrindo piscando num olho só... e dando meia-volta. Nos entendíamos só no olhar: eu queria dormir e ele estava iniciando seu dia.
Ao perceber que poderia ficar quente pois o sol estava aparecendo, procurei o interruptor dos ventiladores. Droga, já havia mudado o pijama e subido na beliche. Mas felizmente havia um interruptor exatamente na altura do segundo andar.
Ótimo poder ter o controle sem ter que sair do conforto da cama...

quinta-feira, junho 18

O bom vampiro

A cena era de suspense: uma bola verde e reluzente dava um brilho a até 10 metros de distância dela e a tudo que estivesse a esse alcance. Meus olhos estavam afixados no objeto que a princípio era perigoso, por não saber do que se tratava.
Todos paralisados olhando o que acontecia, ela flutuava no ar com a ajuda de alguns empurrões de pessoas que se divertiam achando que era um brinquedo.

De repente a bola estoura e todo o seu líquido é expalhado para todos que estavam ao redor. Fiquei paralisada. Todos eles se tornaram vampiros e só o que eu podia ver eram dentes enormes e grunidos de todos eles ao mesmo tempo vindo na direção daqueles que não foram atingidos. Olhei espantada, dei meia volta e comecei a correr, o desespero era total.


Não sabia se o acontecimento era sonho ou verdade, apenas de repente apareci dentro de uma loja de brinquedos, uma loja famosa daquelas que chegam a empilhar bonecos no centro de um espaço anteriormente muito grande, fazendo a passagem ficar menor ainda e o cliente mais perto de seus produtos. Mas algumas pessoas estavam ali brincando com uma bola curiosa... Ela era verde, meio fluorescente e.... brilhante. Meu Deus... será que era uma "premonição" que nem naquele filme que o cara sonhava com o avião explodindo e assim que ele acordava tudo acontecia igual ao sonho? Bah... isso é coisa de filme.

Até entrei na brincadeira, era minha passagem, então na hora que eu passei dei um toquinho na bola pra ela voar novamente. Minha dúvida era gigante. Minha intuição dizia que aquilo ia dar em merda, mas pra variar eu não estou nem lixando pra minha intuição, então acontecesse o que acontecer, estava eu lá perto da bolinha me arriscando, e pelo menos EU sabia que risco estava correndo, coitadas das outras pessoas.

E a bolinha estourou. Assim que senti várias gosmas em mim, tentei tirá-las para não dar o "efeito-vampiro". Enfiei um dedo na parede da minha boca e tirei um pedaço, o outro estava no ombro, ia olhando para procurar cada pedaço verde.


O castelo era exatamente como um castelo, sem tirar nem pôr. As paredes todas de pedra, com uma luz branda, cantos escuros... nós gostávams do ecuro, tinhamos que nos acostumar com isso, até porque, no claro eramos visto com facilidade.
Cada vampiro tinha um quarto; alguns dividiam mas eu dormia no meu sozinha. Eu estava parada na porta olhando para o corredor, que a cada 3 metros havia uma luminária do estilo lamparina. Xúlia passou na hora, vindo da direção oposta da qual eu olhava, com um outro amigo vampiro nosso e um prisioneiro: meu anjo-querido-amigo lobisomem Jacobriel. Tadinho do Jacob!! Os vampiros queriam mesmo é acabar com os lobismoens, mas eu não tinha coragem... não temos o direito de fazer isso, ainda mais com ele... tão bonzinho, ele era meu melhor amigo!!
Por sorte a Xúlia parou no meu quarto "Larissa, fica com esse cachorro aqui que eu vou ali com o Carlos e já volto... dá um jeito nele". "OK". Peguei o Jacob pela coleira e me sentei na beirada da cama e ele na minha frente. Falava bem baixo para que somente ele ouvisse "Jacob, presta bem atenção, não se transforme em gente, se não todos vão sentir você, por favor me ouça, só me ouça". Mas a carinha dele era de desespero, tudo o que ele queria era fazer exatamente aquilo para conseguir se comunicar comigo. E a pessoa dele se fez na minha frente... ele veio me dar uma braço e na hora eu senti um cheiro tãaaao bom... dava vontade de dar uma dentada e... Bem, como eu tinha certeza que não faria aquilo, ordenei-o "Jacob, é sério, as pessoas vão perceber que você está aqui e vão vir pra cá e eu vou acabar entrando em apuros". E sem nem conseguir falar qualquer coisa ele voltou a sua forma de lobo e ficou com uma cara de cachorro-pidão que dava dó! Mas aquilo era para o bem dele, e o meu também né. "Jacob, eu gosto muito de você e não vou deixar que nada de mal te aconteça, pule agora por essa janela, sorte sua porque minha varanda é baixa. Faça menos barulho possível, corra daqui e nunca mais deixe que ninguém te pegue, seja esperto!! Já já tento entrar em contato com você. Te adoro muito, agora vai !".

Ele quase não esperou eu acabar, saiu correndo e se foi...

sábado, maio 30

A fera

Passeava por Cachoeiro e Cæsar era uma boa companhia. Estávamos andando à toa a noite... Mas a cada esquina tinha um terreninho com um cachorro. Eu morria de medo deles. Mas Cæsar estava atento, ele era ótimo com cachorros, parece que os entendia... Mas eu não.
Para atravessar aquele terreno precisaria de uma ajuda, aquele cachorro estava de olho em mim, prestes a me atacar. "Cæsar, me ajuda... Já sei: tente entreter o cachorro pelo outro lado do terreno, que quando ele estiver bem longe de mim eu atravesso rápido sem ele ter chances de me pega". Então ele foi, lá pro outro lado. Olhei bem, mirei e fui. Corri corri corri corri corri até decidir olhar para trás. Era exatamente o momento que o cachorro percebeu minha presença e veio atrás de mim. Corri mais ainda. Cheguei ao murinho e pulei sem me do de me machucar, tudo o que eu queria é me safar daquele cachorro. Então o Cæsar veio logo atrás "Você tá bem? Fiz o que pude!". Ah, como ele era bonzinho :) tão protetor! "Me machuquei um pouco, ralei minha coxa, mas tá tudo bem, pelo menos foi só isso."
Cæsar me acompanhou por todo o trajeto e repetimos isso em todos os outros 2 terrenos com cachorro. Foi difícil, mas conseguimos.
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Meu pastor alemão estava muito, muito bravo. Ele era terrível. Sair com ele na coleira era uma novela, todos tinham medo e ele queria atacar tudo.
Passamos por um cachorro magro e sem pêlos, não sei a raça, mas era forte também. O pastor foi pra cima dele com tanta força que fiquei com pena, alguma coisa ruim iria acontecer. Segurei firme, ele me respeitava, mas nas horas de bravura era difícil se conter: foi pra cima do cachorro e deu uma bocada no pescoço dele. Meu Deus, ele ia morrer !!!! Puxei o Pastor com força e gritei pra mostrá-lo a seriedade do meu pedido. Fomos embora correndo e algumas pessoas foram socorrer o cachorro. Era melhor sair dali o quanto antes, para que ele não machucasse mais ninguém.
Mas para onde eu iria? Tinha tanta gente na rua, tantos carros, estava perdida.
De repente veio um cachorro atrás de nós, parecia que queria se vingar do amigo lá de trás. Mas nenhum era páreo para o Pastor. Meu rosto se contorcia de pena antecipada daquele cachorro. O Pastor deu um voador nele, pois além de se proteger, pretendia proteger a mim, como o cachorro vinha por trás. Não deu outra. O Pastor também tirou pedaço do segundo. Ah, droga... não quero cachorro pra isso, machucar os outros.
Saí correndo dali pro meu apartamento, talvez lá eles me ajudassem a conter o Pastor. Assim que cheguei lá, encontrei meus pais e irmõas e algumas outras pessoas, e os dois cachorros machucados estavam no chão, atados. Não poderia ficar em casa também... todos me olharam, sem falar uma palavra, os cachorros levantaram sua cabeça e olhavam com medo o Pastor. Puxei-o com força para não dar nem margem à suas vontades violentas... Era melhor nos excluirmos. Assim não machucávamos ninguém.

quinta-feira, abril 9

Aniversário da Rua A. Penedo

Saí de casa em direção a Rua A. Penedo, pois era aniversário da Rua e estavam fazendo um workshop para mostrar como era aquela rua anteriormente e sua evolução até hoje.
O local escolhido era o pequeno trevo entre a rua dos bancos, a entrada para a escola, a rua que dava para o Conservatório de Música e outras ruas. Aquele trevo é muito movimentado até hoje, passam muitos carros ali, sempre dá trânsito. Escolheram bem.
Só tinha eu no local. O apresentador estava parado bem no meio do trevo, e tudo estava parado. Não tinha sinal de pessoas, nem carros, e barulho.
Parecia uma daquelasa cenas de filme, onde o personagem principal chega e tem um cara lá que parou o tempo e tudo fica parado em função da vontade dele. Só eu e o apresentador que tinhamos vida naquele trevo.
O céu estava com uma cor marrom clara homogênea, como se o tempo estivesse ruim mas ainda era dia, e os prédios em volta tinham um aspecto antigo. Parecia que eles haviam "arrumado" o local para que a apresentação fosse realizada. É como reformar um estádio para receber um cantor famoso.
Ele estava com as mãos juntas e dedos entrelaçados em frente à barriga, com um leve sorriso e esperando minha aproximação. Assim que cheguei a um metro dele, parei. Ele então começou a apresentação do local.
Ele apontava para cada casa e prédio e explicava o que era antes. O local onde hoje é um prédio comercial, entre a rua dos bancos e a rua de entrada para o Conservatório de Músicas, antigamente era uma casa onde uma família de portugueses morava e logo acima havia um restaurante, cujo acesso era por uma escada separado da casa. Ele então foi girando e falando de cada lugar, cada espaço em volta daquele trevo.
De repente, ele dá uma ordem em uma língua que eu desconheço e ... tudo se transforma exatamente no que era antes. Estava eu num filme? O cenário mudou simplesmente com sua ordem. Tinha até um restaurante no estilo daqueles filmes faroestes, com a portinha vai-e-vem e estrutura toda desenhada. Nossa, o restaurante da família do português era exatamente como ele havia descrito, dava pra ver até a plaquinha de madeira que eles fizeram para pendurar e dar nome ao lugar. Na plaquinha havia o nome com um legume representando a "logo" do restaurante.
O interessante é que tudo era azul. Hoje isso seria extremamente brega. Só a casa do português, o restaurante que eram brancos, a plaquinha da cor de madeira com a escrita preta e o legume colorido, que parecia ser uma pimenta. O céu que continuava o mesmo, num tom amarronzado triste.
E assim foi o workshop de aniversário da Rua A. Penedo, para uma só pessoa.

Coelhos da páscoa na neve de Cachoeiro

Era dia, mas estava escuro. Estava no meu quarto do apartamento da Rua A.C. Puxei a cortina do meu quarto, que me impedia de ver lá fora. Ao olhar a avenida e as casas, os prédios ao redor, a rodoviária, era quase impossível distinguir um lugar do outro. Estava tudo branco, parecia até o fim do mundo! A única cor que enxergava era dentro do apartamento.
Olhei pro céu pra ver se via uma luz, e vi. Era neve.

Neve? Em Cachoeiro? Era mesmo o fim do mundo... Havia mais de 2 metros de neve na avenida, as casas totalmente cobertas, o morro, o clube, a rodoviária. Só se via umas janelinhas e ali sim, se via alguma cor: preto.

Que tristeza... tudo branco... parado... ninguém na rua, e nevava em Cachoeiro, era difícil acreditar.

Minha família dos Estados Unidos estava lá comigo. Coitados, saíram lá de Ohio-que-os-parta pra ver neve no Brasil, onde se procura sol e praia. E eles haviam acabado de ganhar 4 coelhinhos, o que coincidia com o mesmo número de membros da família: minha mãe Adriana, e os irmãos Kevin, David e Matthew. Matthew havia levado sua namorada pra lá também.
Devem ter ganhado porque era Páscoa. Normalmente se dá ovos de páscoa de presente, não é? Não sei quem teve a brilhante idéia de dar coelhinhos, mas bem... O problema é que eles estavam brigados justamente por causa dos coelinhos. David havia colocado nome neles, mas Matt e Kevin tinham ficados da vida, só porque não tinham a chance de fazê-lo!! Mas que coisa, porque cada um não escolheu um, já tinha exatamente o mesmo número de coelhos? Que bobeira...

quinta-feira, março 12

Havia um terreno entre o prédio onde moro e outro terreno, que por sua vez dividia o primeiro terreno e uma casa.
Antigamente era um lava-jato, mas agora já não era mais. Estava fechado na parte da frente por alguns madeirites, e havia uma porta para quem desejasse entrar, trancada por uma corrente e cadeado.
Estava na avenida observando o prédio e o terreno, que estava em desuso no momento. Alguns funcionários de uma empresa que também ficava por ali estavam ali na frente, e eu somente observava que aquele terreno era de certo modo um acesso fácil ao prédio. Em sua outra terminação, do outro lado de onde eu estava, o mudo era bem alto, e no final do muro já era a rua de cima, onde havia a porta de entrada do prédio. Se algum ladrão viesse da rua de cima, e pulasse na marquise que havia no prédio, poderia facilmente subir com auxílio de uma corda ou algo parecido, ou até outra pessoa, e escalar até a garagem. Daí pra cima era fácil. Se fosse de dia, era só render alguém que passasse e fazer seu caminho a dentro. Se fosse a noite, era esperar alguém desativar e ativar o alarme, aproveitar os segundos após para passar pela área e ter acesso à escada. Esperaria na porta de um andar, e, quando algum morador chegasse pelo elevador, o renderia e entraria porta a dentro, roubando tudo. Na saída teria que ser rápido, pois logicamente alguém iria perceber e chamar a polícia.
Será que nenhum ladrão safado ainda havia pensado nisso? Tem tanta gente esperando oportunidades como estas, e roubar um prédio desse, cheia de gente rica. Não é possível que ninguém ainda tenha se arriscado... Talvez porque pensem que ali tivesse algum sistema de alarme potente... Mas estavam enganados: era falho e qualquer um poderia fazer isso tudo que acabou de passar pela minha cabeça.
Por ironia do destino, naquele mesmo dia a polícia se encarregou de chamar várias pessoas que moravam naquele prédio, como também ao redor daquele terreno, para armar uma emboscada a uma gangue de ladrões que tinham feito planos para roubar o prédio. Isso porque, a namorada do tenende estava "infiltrada" na gangue, fingindo ser namorada do chefe da mesma, justamente para vigiá-los e avisar a polícia de seus possíveis planos. Então havia chegado a hora.
Já era noite. Eu, meus pais, alguns que moravam ali na frente, o casal da casa que ficava após o terreno ao lado estavam todos a postos. Mas porque chamaram tanta gente de fora? Se acontecesse qualquer coisa, seríamos feridos, talvez mortos. Não entendi, só sei que estávamos ali, e o papel seria de ajuda. Não estaríamos simplesmente assistindo, mas faríamos parte do plano para pegar aqueles ladrões.
Meus pais estavam dentro do carro, que estava suspenso, bem a frente da porta frontal do terreno, sabe Deus porquê. Eu ficava encostada na porta, dentro da área fechada, no terreno. Olhei para a minha mãe, que estava no banco do motorista do carro suspenso, e meu pai estava logo afora, em pé ao lado do carro, com o braço encostado no carro, observando.
No terreno, haviam várias pessoas, além dos homens do exército. Alguns estavam suspensos perto das paredes, e outros bem no meio. As pessoas estavam espalhadas, e o intúito de elas estarem ali era simplesmente para confundir os ladrões.
Eu ainda não via como isso ia funcionar, mas sabia que minha chave da porta (da qual ficava bem perto no caso de acontecer algo inesperado) estava com a minha mãe, no chaveiro da bonequinha loira, onde estavam todas as minhas chaves. Olhei pra ela, e ela segurava a chave. Qualquer coisa era só jogar e eu abria a porta, rapidamente.
O tenente estava em seu posto, como também todos os soldados, e ia começar a operação. A namorada do tenente estava no terreno ao lado, junto com os outros ladrões, fazendo o papel de enganá-los: iá dar comandos falsos e eles seriam pegos por nós, que estavamos esperando.
A primeira leva de ladrões começou a aparecer, devagar, pelo muro, e as pessaos começaram a andar de um lado para o outro (isso tudo fazia parte do plano, que eu ainda não entendia...), para confundí-los. De repente os soldados pararam, miraram contra os ladrões e dispararam para matá-los, sem dó nem piedade. Caíram todos mortos, para o terreno aonde estávamos.
Eu olhei em volta de todos os muros. Todos estavam ainda a postos, esperando outra leva de ladrões aparecerem, todos sorrindo, comemorando em silêncio o sucesso da primeira vez. Eu não sorri.
Após alguns momentos, outros ladrões apareceram do outro lado do muro, escalando-o. O número era grande, aquela gangue era enorme!! Aconteceu a mesma coisa: pessoas andando de um lado para o outro sem parar, os soldados a postos e atirando contra os ladrões. Morreram todos, na mesma hora, justamente como da outra vez. Era estranho, parecia que os ladrões que ficaram do outro lado do muro não tinham nem noção do que havia acontecido anteriormente, pois se tivessem sabido, não teriam vindo como os primeiros, pois estes morreram!
A operação era fácil: não havia tiros vindo de lá, pois eles não davam conta de subir o muro e atirar em nós. Por isso talvez a nossa presença. Começou a fazer sentido pra mim por que eles arriscaram em nos pôr lá dentro. Pois o risco do perigo era pequeno.
Esperando por outra leva de ladrões, a namorada do tenente surgiu do outro lado do muro, passando para o nosso terreno. Todos ficaram em silêncio, esperando ela falar alguma coisa. Mas ela não parecia estar feliz... será que ela ficou impressionada com aquilo tudo, com tantas mortes? Será que o tempo que ela passou com aquela gangue a fez se envolver com alguém, digo... se importar com eles, por menor que seja o tamanho do sentimento?
O tenente então sorriu para ela, abriu os braços para envolvê-la e a abraçou: "Minha querida como você fez direitinho. Deu tudo certo, que bom!". Todos então sorriram e aplaudiram, felizes, uns se abraçavam, outros conversavam, felizes com o sucesso da operação. Mas se estávamos esperando por mais ladrões, por que ele deu a operação como "fechada" só porque ele avistou sua namorada vindo a nosso encontro? Não é possível que não havia planos: não sabiam quantos ladrões eram no total? A namorada não estava ali pra isso? Ela ficou esse tempo todo e não houveram planos, não houve comunicação?
Eu continuava observando. A namorada estava séria, e esperou que os comentários cessassem para falar: "Podiamos, ao menos, fazer um minuto de silêncio para rezar por essas almas? Houveram muitas mortes aqui, e por piores seres-humanos que eles eram, eram pessoas, que não estarão mais com seus filhos e família, a partir deste momento". O tenente, sério, então balançou a cabeça, entendendo seu sentimento. Realmente haviam tido muitas mortes, havia vários corpos pelo chão. Ele então pediu que todos se sentassem e abaixassem suas cabeças, e os soldados que estavam próximos aos muros, que se virassem para o mesmo e encostassem sua cabeça para qie rezassem juntos. Então todos estavam "cegos" a qualquer coisa que acontecesse. Isso não estava certo, alguma coisa estava errada. Essa mulher não está a nosso favor. Eu comecei a me desesperar, esperando que algo muito ruim fosse acontecer. Minha mãe, lá de cima do carro, estranhou minha reação, eu pedi que ela jogasse a chave para que eu saísse dali, não queria mais fazer parte disso. No momento que ela jogou a chave vi que não estava sozinha: outras pessoas tiveram a mesma reação que a minha, e estavam logo atrás de mim, me empurrando para que pudessem sair dali logo. Eu abri a porta muito rapidamente, e as pessoas voaram, saíram correndo pela avenida abaixo, correndo muito. Eu parei no meio da porta e olhei para trás, aqueles tolos abaixados e rezando por aquela gangue que só queria roubar e fazer o mal. Eles acreditaram na mulher muito rápido, e se não fosse isso? E se não tivesse acabado?
De repente, os ladrões, um número enorme, pareciam uns 20 ou mais, apareceram pelos muros, a namorada do tenente sorriu, e eles começaram a atirar em todos os soldados e pessoas ali ainda presentes. Eu olhei para meus pais no carro suspenso logo acima da porta, já haviam sido atirados. Eu me desesperei, comecei a correr e chorar, meus pais acabaram de morrer, na minha frente. E eu ainda tentaria salvar minha vida. Os ladrões riam muito, de vingança, gritavam, como se aquilo fosse uma festa pra eles, nos chamando de "tolos" e "burros": "Querem isso? É disso que vocês gostam? Então morram seus idiotas! Hahahahahaha!". Não acreditei que presenciara aquela terrível cena. Saí correndo na esperança de salvar minha vida, mas não consegui.
Três deles já estavam no muro que dividia o terreno do prédio, e estavam em cima da marquise, justamente como eu havia pensado naquela manhã. Eles se voltaram para mim, e sem hesitar, rindo, metralharam bem no meio da minha barriga.
Eu cai de joelhos e meu corpo se deitou de costas, eu olhei para os tiros na minha barriga e via o sangue jorrar para fora...
Fechei os olhos, e imaginei uma menina pequena, com mais ou menos 3 anos de idade, com uma mochilinha das costas, de bermudinha e camiseta da escola, usando um pequeno tênis e uma meia que subia quase até o joelho. Ela estava sozinha na calçada, na beira da rua, olhando para os lados para poder atravessar. Era tão parecida comigo, e tinha os olhos do Xô, que gracinha era minha filha... Como iria ter filhos e viver num munto tão violento? Não ia ter coragem de deixar minha filhinha sair sozinha. Não, não conseguiria deixá-la ir ao mesmo à escola. Era impossível. O mundo era muito perigoso para essa menina tão linda e indefesa. Gritei em meus sonhos: "Mel, vem aqui com a mamãe!", e ela virava o rosto, sorria e vinha correndo para meus braços. A levava para casa, de volta, aonde lá ela estaria salva.
Mas porque pensava em filhos? Abri meus olhos e vi aqueles ladrões bem em cima do muro, rindo da minha situação e festejando tantas mortes. Eu estava morrendo... minha barriga agora era só sangue. Uns 10 tiros havia me perfurado.
De pouco em pouco, senti o sangue subir na minha garganta e invadindo minha boca e meu nariz. Engasguei com aquele líquido, tentei respirar, mas não consegui. Tossi sangue, e me senti sufocada.
Morria afogada em meu sangue.

sexta-feira, janeiro 16

Demônios e demônios.

Eu, Augustino, Niucha e Zúiu estávamos a caminho de uma missão, tínhamos que achar um local seguro para nos manter escondidos.
Entramos na escola e achamos uma sala relativamente pequena, e nos instalamos ali. Colocamos nossos colchões no chão e sentamos. Augusto ainda trabalhava no colchão dele.
Estava escuro e não podíamos acender as luzes pois a escola desligou o disjuntor durante a noite. Começamos a conversar, a tirar as coisas das mochilas.
Olhei pra fora das janelas que ficavam para fora, no alto da parede lateral. Estava tudo escuro, não havia um sinal de luz, além da luz da lua.
"Niucha, me passa o biscoito" disse. "Vamos preparar logo as coisas para dormir" Zúiu apressou. Eu continuava a olhar pela janela. Eu sempre gostei de varandas. Todo lugar onde morava, eu separava alguns minutos do dia para ficar na varanda e olhar para o que acontecia lá em baixo, ou para onde a varanda me permitia olhar. Na falta de varandas olhava para a janela.

Minhas memórias foram cortadas por uma passagem de um.. bombril? O que era aquilo? Será que tinha gente limpando a escola a essa hora? "Gente, o que é aquilo?" Talvez houvesse um lugar muito sujo no alto e a pessoa precisasse usar um cabo de vassoura como auxiliar. Vai saber.
Mas o bombril não saia de visão, ele continuava passando pra lá e pra cá.

Então apareceram umas barbinhas para fazê-lo companhia. Parecia aquelas barbinhas de mariscos, tipo de.. LAGOSTA? "Gente, OLHA PRA ISSO!" Meu Deus, uma lagosta gigante escalava a janela e ameaçava entrar na sala. Sua puã gigante segurava a maçaneta da janela e ficou pendurada ali por alguns segundos. "Aaaaaaahhhhhh!" Jogamos tudo dentro das mochilas correndo, pegamos os colchões do jeito que estavam e saímos correndo da escola. Um morcego passou muito perto de nós, eu eu Niucha gritamos de susto! Parecia feito de papel preto, mas era de verdade. Que coisa horrível. Logo após veio outro, do dobro do tamanho do primeiro e deu um voador muito perto de nós. Parecia que faziam de propósito para nos assustar. Nossa, era difícil até de carregar as coisas, de tanto que tremia! Enfim chegamos no pátio.

Que bizarro. Ficamos olhando um para a cara do outro com cara de "E agora?", Zúiu me perguntou "Você conhece bem aquele Augustino?" eu "Bem não, apenas o conheço", disse, "Você não viu o tanto de maconha, crack e cocaína que estavam escondidos no colchão dele?". Quê? Como se não bastasse lagostas gigantes escaladoras de paredes, tinha um traficante na sala com a gente? Que Diabos de missão era essa mesmo?

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Tio Calombo com tia Lorzembina nos levava, eu, Quelóide e Falóide, para a casa de Tia Antonela e Kanchan. Já era noite e o tempo estava húmido, com algumas poças restantes das chuvas sem fim. Pelo menos havia dado um tempo agora.

A comunidade tinha cara de filme de terror. Casinhas lado a lado com jardins grandes, nenhuma alma viva na rua, luzes fracas vindas dos postes, e o nosso carro.

Tio Calombo estacionou na grama, em frente à corrente, e já avistamos o pessoal na varanda, tia Zebra na rede levantou com um sorriso em nossa direção, além de Marccelo e Vivi e todos os outros familiares. Como era bom estar em família. Me senti mais segura ali, e não via a hora de estar dentro de casa.

Marccelo e Vivi sentaram no chão e se divertiam com seus brinquedos. Dei um abraço apertado em Antonella, como eu sentia saudades dela!! "Querida, fique a vontade, voltarei para a cozinha". Fui para um quarto as meninas, Quelóide deitou-se na cama e ligou a TV, Falóide pegou uma revista e eu, para variar, fiquei olhando pela janela. Dali de cima via vários telhados de casas, e a lua cheia iluminando as telhas.

De repente aparece uma figura andando por cima das telhas. O que ele estava fazendo ali? Poderia cair a qualquer momento. Ele olhou em direção a janela de soslaio, e continuou seu rumo. Não estava perto, mas não estava longe. Não me parecia que estava ali para fazer algo do bem. Por sua expressão, julguei que ficou incomodado comigo. Senti um arrepio, mas continuava o vigiando.

Ele começou a fazer gestos com as mãos, balançar os braços e reparei que estava construindo algo. Em cima do telhado? Foi muito rápido, e um minuto depois uma esteira de palha sob vários galhos e uma pessoa de palha estavam voando pelos céus, queimando em fogo. Nunca havia testemunhado algo tão pavoroso. Era um tipo de macumba, uma reza para o diabo. Aquela figura de palha se reconheceu como o próprio, e enquanto subia aos céus em fogo, ele mudava suas feições e movimentava os braços, era como estivesse vivo! Comecei a tremer, pensava em chamar as meninas mas não conseguia, estava pasma olhando aquilo. O rapaz percebeu que eu ainda estava ali.

Senti um movimento à frente por entre os telhados. Três correntes finas de fumaça negra, continham cinzas e faíscas, emergiam da rua por entre as casas, quão concisos eram suas formas. As três correntes erguiam-se agora numa velocidade absurda, em espiral, e no meio deste subia uma outra corrente da mesma espécie, que ia até os céus. "Meninas... olhem pela janela". Falóide ficou pasma juntamente comigo, que só mexia a boca, Quelóide nem deu atenção, "Ah, gente, vocês vão se incomodar com isso? Vocês acreditam nisso?". O rapaz flutuou sobre os telhados, pegou algo com as mãos no meio daquele espiral em fumaça, e flutuou para muito perto de nossa janela, e então soltou o que havia consigo, uns besouros cintilantes, pareciam que estavam quentes em brasa, mas estavam vivos. Ele havia feito aquilo porque testemunhamos o que acabara de fazer.

Só sei que comecei a rezar o "Pai Nosso" e a "Ave Maria" continuamente, só parava quando precisava falar com alguém. Aquilo não era de Deus, e sabia que se não acreditasse naquilo, nada de mal ia acontecer a mim. Precisava ter fé, mas estava abalada. O medo tomava conta do meu corpo. Sai correndo, gritei para meus tios e junto com Falóide os convencemos de que tínhamos que ir embora. Quelóide foi andando sem abrir a boca. Não estava nem um pouco perturbada, parecia que não tinha acontecido nada!

Meus tios pegaram tudo que eram seus e foram em direção ao carro. Eu despedi de tia Antonella, pedi ajuda para procurar minha sandália que havia deixado na sala, junto com os meninos, mas não a encontrava, era muito brinquedo espalhado. Peguei um chinelo que aparentemente cabia nos meus pés e os coloquei "Tia, quando você achar uma papete com o fundo xadrez, separa que é meu ok? Tenho que ir, beijo". Saí para o carro, só faltava eu, corri para a porta traseira esquerda e entrei. Tio Calombo deu ré, eu ainda rezando, olhava ao redor procurando algo estranho mas não achava, graças a Deus.

Ao sairmos pela rua, ouvíamos latidos de cachorro, eram vários. Alguns carros atrás de nós eram seguidos por eles. "Gente, temos que ir logo. Aqui os cachorros seguem os carros e se bobear entra um pela janela" alertou tio Calombo. Tratei de puxar o primeiro botão no encosto da porta pra fechar a janela. Sem querer fechei a janela da frente, do motorista. Mas tio Calombo não reclamou, continuou fechando-a. O cachorro já estava do nosso lado, correndo, latindo e olhando pra dentro do carro, e um outro vinha logo atrás.

Com as janelas fechadas me sentia mais segura. Mas continuava rezando.